terça-feira, 2 de setembro de 2008

Agosto... mês cheio de gosto!!!


Enfim... em casa. Cheguei em Salvador no domingo, 24/08, mas precisei de uma semana só pra mim. Curtir o meu sono, meu quarto, o aconchego das minhas coisas e do meu mundo. Estava com saudades. Embora muitos dos meus amigos saibam, o motivo da minha viagem nunca foi comentado aqui no blog. Eu, que sempre conversei sobre o fato com todos, tive medo de publicar algo aqui. Penso que postar no blog é eternizar as sensações e tendo-as só em mim é mais fácil administrar...

Pois bem... fui a Curitiba/PR acompanhar João Pedro, meu sobrinho de 9 meses, que iria passar por um transplante de medula óssea. Ele é portador da síndrome de Wiskott-Aldrich e desde que nasceu sabíamos ser necessário o transplante para salvá-lo. Para mim, o problema maior nem era o transplante em si; mas ter um doador 100% compatível é como achar agulha no palheiro: as chances são de uma compatibilidade para cada cem mil casos!!!!


Farra em Curitiba! Em casa e na rua! rs!

Ficamos surpresos ao saber que João já tinha um doador e que o transplante aconteceria em agosto. A priori, ele seria transplantado ao completar um ano. Por um lado, vibramos por ter achado um doador tão rápido (tem pessoas na fila há mais de seis anos); por outro, o coração apertou por saber que ele, tão pequeno, passaria por sessões de quimioterapia, inserção de cateter, etc; além de ter de ficar em Curitiba por seis meses.


Com o coração dividido, começamos a cuidar dos trâmites da viagem. Ficou acertado que iriam minha cunhada, a mãe dela e as duas crianças: Luquinhas e João. Já próximo do dia do embarque, nem me lembro mais o motivo, a avó das crianças não podia ir e eu tive que substituí-la. Juro que não queria ir, mesmo sabendo da minha responsabilidade como madrinha de João. Não há como não pensar no pior. Na minha cabeça só vinha um pensamento: " Meu Deus, se não der certo, como digo à minha mãe?"


Vencendo minhas próprias barreiras, embarquei dia 20/07, deixando minha família e um time de super-amigos torcendo pelo baby (tenho absoluta certeza disso!!!). Ficamos numa pousada próxima ao Hospital de Clínicas da UFPR, mas com a ajuda do serviço social, achamos uma casa toda mobilidada pra alugar, que também ficava perto. Os meninos passaram por uma bateria de exames. Luquinhas estava fazendo a revisão do seu transplante, que foi realizado há quatro anos e João seguia os procedimentos para internação.


Na terça, 29/07, João fazia dez meses e era internado. Assim, eu e Tscilla estabelecemos uma rotina de revezamento: tinha Luquinhas em casa e João no hospital. A primeira semana foi difícil. Era só uma enfermeira ou médico entrar no quarto que João chorava e esticava as mãozinhas pedindo colo. Como as veias dele sempre foram difíceis de serem encontradas, tirar sangue foi um sofrimento. Foi duro ver o meu bebê com uma sonda no nariz e um cateter no peito. Saí chorando do hospital algumas vezes.


Com o passar dos dias, o próprio João foi se acostumando (e se afeiçoando) à equipe médica e aos voluntários. Preciso, inclusive, citar o quão essas pessoas são preocupadas com os pacientes. Tudo no hospital é feito pra minimizar o desconforto de se estar internado. No quarto de João Pedro não faltava nada. Dos brinquedos ao cardápio, que era preparado como fazíamos em casa. Das fraldas ao carrinho de bebê para passear no corredor. E uma caixa de máscaras só pra ele!!! O cuidado é tão grande que eles aferem temperatura e pressão a cada duas horas, como também pesam as fraldas pra avaliar diurese e fezes. Toda manhã colhiam sangue para avaliar as taxas dele.


João passou pela quimioterapia sem grandes complicações. Pouco teve febre, vômito ou diarréia. Estava na maioria dos dias elétrico, brincalhão e sorridente. Às vezes, ele só queria ficar no colo e dormíamos juntos a manhã inteira! rs! Noutras, ele ficava no berço rodeado de brinquedos até cansar! Quando as enfermeiras deixavam Luquinhas entrar então... era festa no quarto!


O dia do transplante foi uma data histórica:08/08/2008. Abertura das Olimpiadas de Pequim. Para os chineses, dia de sorte. Para João, nova data de nascimento. Todos em casa tensos, preocupados, agoniados. E o transplante nada mais é do que uma bolsa de sangue infundida pelo cateter! rs! Sim... pq acho que todo mundo pensava numa intervençao cirúrgica, em algo complicado, né? Nada disso!!! A enfermeira chega no quarto e diz: "- João, sua nova medulinha!!" Instala e espera trasncorrer. Pronto. João é uma criança transplantada. O dia do transplante é considerado o dia zero. Cada novo dia é considerado dia +1, + 2, +3, ...


O diaD. Tia Ruth colocando a nova medula. Tia Alzira e Tia Cris na torcida!!

Partindo do Dia Zero, temos de esperar as taxas dele se normalizarem, uma vez que elas zeram durante o tratamento. O prazo para que o organismo aceite a medula é de, no mínimo, 15 dias. É uma fase de total atenção pois o nível de imunidade é baixíssimo. Tudo é passado no alcool antes de ser entregue a João. Cada pecinha de brinquedo que cai tem de ser lavada no álcool. O quarto é desinfetado duas vezes ao dia para garantir o ambiente limpo.


Os médicos sempre foram otimistas com o quadro de João. As taxas dele sobem a cada dia. Ele, por ser bebê, é o queridinho do andar. Às vezes, passa a tarde no colo das enfermeiras ou bagunçando no corredor. Mas sempre de máscara!!! A porta do quarto dele sempre fica aberta. E sempre que vê alguém passar, ele grita e aponta! Dá tudo pra estar na "rua"!!! rs! Engana-se quem pensa que ele é quietinho ou está molinho, ele não pára quieto um segundo!!


E eu, que fui pra passar uma semana, fiquei um mês. Curitiba é uma cidade linda! Limpa, organizada e... FRIA! Nem vou contar a quantidade de roupas que vestíamos. rs! Sempre que eu falava que era da Bahia, vinha algo do tipo... "- Tá com frio, baiana???". Não... 'magina!!! hahaahahahahahahahah! Eu já estava tão habituada que nem sabia se queria voltar pra casa. Queria mesmo era ficar com João.


Sim... João teve alta do hospital dia 28/08, mas ainda retorna todas as manhãs pra tomar medicação. Continuamos torcendo pra que ele volte logo pra casa!!! Dia 29/08 a equipe do andar fez uma festinha pra comemorar os onze meses dele. Com direito a bolo, chapeuzinho, muitas bolas e guloseimas deliciosas (eu acho, porque não comi. rs!).


A festinha de 11 meses de João, mas quem apagou a vela foi Luquinhas! rs!


Avaliando tudo, sei o quanto foi gratificante ter ido. Nada do que eu conte vai descrever realmente o que senti e o que vi. Quando eu achava que não ia aguentar, vinha um torpedo carinhoso e animador; uma ligação inesperada e calorosa: a certeza de que eu tinha com quem contar. Hoje tenho um outro olhar sobre as pessoas, sobre carinho, desprendimento e amor ao próximo. E espero que eu consiga ser uma pessoa melhor.



Obrigada a todos que torceram, que rezaram e vibraram positivamente.
A ajuda e suporte de vocês, amigos, foi fundamental para mim!!